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Thursday, June 15, 2006

Lameira

Ainda não passou um ano desde o incêndio gigantesco que deixou toda a floresta em volta da Lameira queimada. Agora, quando olho à minha volta sinto-me como um pássaro a quem estranhos mexeram no ninho. A vontade e alegria que tinha antes em vir para a minha terra não são iguais hoje, aliás depois deste acontecimento nada é igual. Tinha muita vontade em vir desde a confusão de Lisboa até à tranquilidade e paz da minha terra onde a padroeira é exactamente Nossa Senhora da Paz. De Lisboa vinha sempre muito cansado psicologicamente, mas fresco fisicamente e por isso todos os trabalhos agrícolas que antes me atormentavam, agora servem para equilibrar o espírito e a alma. Um dos trabalhos que mais gosto é ir às abelhas, tirar mel, colocar alças, verificar o seu estado ou quando possível apanhar um enxame. Outro trabalho que me dava muito satisfação fazer era cortar pinheiros. Pode parecer apenas que é chegar colocar o moto-serra e cortar a árvore, mas na realidade esta actividade é uma actividade com alguns riscos e que requer não só alguma perícia, como também muito cuidado e atenção no corte. Ao ver a arvore cair e depois pode-la cortar em pedaços dá-me um gozo especial. Mas agora, depois do incêndio, é terrível cortar arvores, que sabemos que só daqui a uns anos estariam boas e que por assim dizer não dão luta por serem ainda muito pequenas. Mais, antes, ir cortar um pinheiro consistia em ir para um ambiente limpo e agradável, onde apenas o cheiro da mistura podia incomodar no meio da natureza. Agora, está tudo queimado em redor, o cheiro a queimado é permanente, a roupa acaba suja e a alma essa acaba a chorar, mas não de tristeza, antes de algo muito próximo de revolta. E qual é o grande problema desta revolta? O não ter alguém a quem chamar culpado. Se tivessem sido detidos os incendiários agora podería dizer que a culpa era dos malandros que estão na cadeia. Se as autoridades tivessem enviado os meios aéreos e se tivessem colocado à disposição dos bombeiros os meios necessários, agora não me lamentaria por viver num país onde os governantes são corruptos. Espero e desejo que o horror não volte e agradeço a Deus esta chuva, mesma que acompanhada de trovoada e relâmpagos.

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